Livros, Outros

Reforços…

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Usando o termo do futebolês eis os meus reforços. Vem ai de tudo um pouco, laterais, avançados e defesas (um guarda-redes pode ser considerado um defesa?), cada um falando a sua própria língua. Para abrir os treinos nada melhor que praticar a língua vizinha com Pedro Páramo de Juan Rulfo. Escritor Mexicano pertencente à geração de 52 e opositor do Muralismo Mexicano então instalado nas artes. Para exercitar o Alemão  encontrei em segunda mão o New Deal für Deutschland  de Giacomo Corneo (só me custou 1€!), um professor de Economia e finanças sediado em Berlim. Um livro que procura estabelecer um novo contracto social para o crescimento económico na Alemanha. Depois A transformação de Kafka, desta vez em Português, para desenferrujar o léxico. Um livro que retrata a solidão e a impotência contra o absurdo, pobre vida de insecto. E para o fim, para o pináculo do verão, o último Dostoievski, Demónios. Depois deste fica completa a leitura de todas as obras de referência do génio Russo, Mal posso esperar pelo verão!

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Olá ignorante…

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Blindfolded man. Autor:Tim Teebken

– Olá Ignorante!
– Como estás Idiota?
– Olha, nada bem para dizer verdade. Então não é que encontrei ontem o Parvo.
– E então?
– Olha… chamou-me burro.
– A sério?
– Sim!
– Isso não se faz. Nem mesmo a ti!
– O que queres dizer com isso?
– Nada, nada. Estava a pensar alto.
– E tu Ignorante, que boas notícias trazes?
– Comigo tudo bem amigo, nunca pior. Estou a passar por uma boa fase. Ignoro mais do que nunca. Ignoro tudo e todos, até a mim mesmo… vê lá!
– Mas isso é fantástico. Como consegues? Fogo, como queria ser como tu!
– Obrigado amigo. As tuas palavras, como deves imaginar, não valem nada para mim. Obrigado.
– Sim, eu sei. Mas ainda assim penso que é fantástico. Olha… conta-me lá como consegues ignorar a ti próprio.
– Está bem. Eu dou-te um exemplo. Ontem, depois do trabalho, ia eu de regresso a casa quando decidi passar pela taberna, sabes, para ignorar mais um copo. Antes de entrar olho a vitrine e quem é que eu vejo?
– O Parvo!
– Ó Idiota, estás a ser como o Ridículo agora.
– Desculpa, desculpa… Olha lá, por falar no Ridículo, sabes como ele está?
– Sim. Vi-o na semana passada agarrado ao Triste e ao Pobre. Enfim, continua igual a ele próprio. Mas voltando à minha história. Olhei a vitrine e reparei no meu reflexo espelhado no vidro. Fiquei imóvel por alguns momentos, a olhar-me, ajustando a gravata, e, acima de tudo, tentando avaliar a mensagem que a minha postura transmitia. Confiança, seriedade, bom gosto, uma nota leve de humor, de certo responsabilidade e, como seria de esperar, inteligência. Decidi então elevar a minha ignorância para outro patamar e ignorar o meu reflexo, sabes, partir sem ele, abandona-lo na vitrine da taberna
– E resultou?
– Sim. Comecei por me movimentar devagar ao início, sempre fixando nos olhos no meu reflexo mas demonstrando desapego. Depois ignorei-o ainda mais e descolei-me completamente dele. Um pouco tal e qual se descola a parte traseira de um autocolante. Primeiro descolei os meus membros, depois o tronco e por fim a cabeça. O meu reflexo permaneceu imóvel na vitrine e eu retomei o meu caminho para casa. Olhei para a vitrine da loja seguinte, a sapataria, mas nada transpareceu. Percorri o resto da rua em cada vitrine confirmei que o meu reflexo ficara para trás.E foi assim que me ignorei, assim, a mim próprio!
– Fantástico! O Parvo ficará muito contente.
– Ó Idiota… mas qual é a tua paranoia hoje com o Parvo?
– É que ontem eu e o Parvo estávamos na taberna quando te vimos chegar. Ele queria pagar-te um copo e foi até à vitrine fazer-te sinal para entrares. Como tu ignoraste o convite lá tive eu que beber o teu copo… Mas amanhã já lhe posso dizer que afinal tu não estavas a ignorar o Parvo mas sim a ti próprio. É que ele levou a coisa a peito sabes.
– Bem… humm… Mudando de assunto. Por que razão te chamou ele burro.
– Pois… agora que penso bem, acho que na verdade o insulto não foi para mim…

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A última língua…

Já não existe paciência para mais nem vontade para tanto. A ambição choca com os afazeres da realidade e com a miopia das horas cada vez mais rápidas. Ainda assim, contra toda a vontade do corpo e mente, faço o caminho para a escola, de volta ás aulas, de volta à aprendizagem de uma língua. Estranha coisa essa a de aprender um órgão do corpo humano! Mas que fazer, é a língua que temos. Língua é língua e língua, assim, ao mesmo tempo, em uníssono. E eu, linguarudo, dou por mim a juntar ás três que aprendi na escola e àquela que se infiltrou sem pedir licença mais uma, a última. Quis o acaso, talvez determinístico, que a última língua fosse o Russo. Enquanto lhe busco o travo, enquanto lhe apalpo os sons, dou por mim a redescobrir como é difícil aprender uma língua.Mas o esforço perdura e por arrasto a compreensão. De modo lento é claro, para pressas já me chega a de lá chegar…

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Transcrição do livro “Ler Russo é fácil”.

Tradução:

Dois cachorros cruzam-se na rua.

-Ão, ão, diz um deles.

-Miau, diz o outro.

-Olha lá, porque “miauas” tu? Estás maluco?

-Não, estou a aprender uma língua estrangeira…

 

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Solestício da demora…

É quem sabe a pior altura do ano. Pelo menos para mim é a pior altura do ano. Uma altura em que os dias, já de si comprimidos artificialmente pelo relógio do Homem, se tornam verdadeiros farrapos de luz e vida, pois não existe uma sem a outra. Farrapos de luz numa manta de negro, de estrelas quando as há e de noites às quais é permitido um passaporte para lá do admissível.

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O meu quarto nas noites que antecedem o solstício.

Até ao solstício de Inverno é assim. Os dias não param de mingar e as noites de crescer. Tudo funciona ao contrário, os pássaros não voam porque se fartaram e foram embora. Os peixes morrem porque nadam estupidamente alegres até à superfície pensando que o céu de água se trata tal é a escuridão de ambos. É como que se esta última fosse um prolongamento do primeiro ou vice versa. Alguns, indivíduos digo, são como os peixes. Nadam na água escura da manhã para o céu escuro da tarde sem darem por isso. Do trabalho para casa e da casa para o trabalho numa rotina de escuridão.

Valha-nos dia 22, o tão desejado dia de inversão. O dia em que o dia, perdão pela redundância, regressa batalhando a noite de igual para igual até ao reduto do equinócio. Irá mais além, sim, mais além mas sempre ciente da sua morte anunciada. Mas a sua luta não será em vão mas sim em “vem”, sim em “vem”. Porque com o dia vem a luz e com ela a compreensão.  Olha lá… e o frio? O frio para lá do solstício é cortante, castigador. Não te incomoda? Não… contra o frio a música, a arte e o livro que aquece. Mas contra a escuridão, contra a escuridão que armas?

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A próxima estação…

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(Desconhecido remando em Potsdam – 2014)

Quase uma década depois, eis que o Trans-Siberiano se muda de ares. O antigo blog ficará activo por mais algum tempo, pelo menos até ter tempo de fazer uma cópia de todo o seu conteúdo. Com o passar do tempo o blog tomou a forma de um diário e escondem-se nas suas entranhas escondem-se histórias e momentos que quero preservar. Mas chega de lamurias; a partir de hoje o Trans-Siberiano encontrou uma nova casa no WordPress. As actualizações continuaram ao mesmo ritmo que dantes, ou seja, assim que a vontade o entender e o mais depressa que o tempo permitir…

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